Muitos
carros famosos tiveram seus nomes escritos
na História do Automóvel. O Ford modelo "T" pode ser citado como o exemplo
mais significativo. Foi, sem dúvida, um fenômeno sem paralelo. Não somente
como máquina, mas também pelo alcance social e cultural. Foi o primeiro
carro que chegou ao povo, devido ao baixo custo (seu preço inicial, em 1908,
era de 3.000 dólares, mas em 1927, os últimos carros contruídos custavam 270
dólares), sua grande resistência e à diversificação de modelos. Outros
exemplos podem ser citados, como as "baratas" Cadillac Sport, os Marmon,
Packard, etc. Em nenhum deles, entretanto, se havia percebido a influência
da aerodinâmica. Os
únicos veículos anteriores aos Chrysler Airflow onde esse efeito foi
estudado foram o Peugeot 402 e o Silver Arrow 1933, este último, um carro
produzido sob encomenda, em pequena escala.
Carro de produção em massa, o Airflow poderia, ainda
hoje, ser confundido com um produto moderno, embora um tanto deselegante. Os
engenheiros da Chrysler juntaram as características mais avançadas de
carroceria e chassi e projetaram um novo carro de desenho realmente
revolucionário, a daptado
às necessidades da produção em série. No modelo de 1932, as grades do
radiador deixaram de ser planas e tomaram a conformação de um "V",
inclinados para trás. Os faróis carenados e os pára-lamas traseiros
começavam a usar saias. As suspensões de então, deixavam muito a desejar,
devido à conformação das molas e só eram realmente cômodos os carros mais
pesados.
O
novo Chrysler, desenhado em função dos testes em túnel de vento e muitíssimo
rodado (pelos protótipos em estradas desertas), quando foi apresentado ao
público, provocou verdadeiro choque, pois, apesar de apresentar inovações
que, atualmente, são encontradas em todos os automóveis, era diferente de
tudo aquilo que se estava acostumado a ver em matéria de autoveículos. Seu
chassi tinha um novo desenho e nele era rebitada a carroceria em curtos
espaços; o motor era colocado sobre o eixo dianteiro e a suspensão, com
molas longas, era muito mais suave.
O
centro de gravidade, bem mais baixo, e o tratamento aerodinâmico emprestavam
ao veículo um estabilidade incomum nos carros de sua época. Sua carroceria
com poucas arestas, faróis embutidos, pára-brisa encurvado e inclinado para
trás, saias recobrindo grande parte das rodas traseiras e o pneu
sobressalente coberto, davam ao carro um coeficiente de resistência
aerodinâmica pouco superior a 0,5, o que permitia uma maior economia de
combustível e maior velocidade. Além disso, a habitabilidade abriu novos
horizontes em questão de comodidade. Além
do maior espaço interno que foi conseguido pela distribuição racional dos
componentes mecânicos, o banco dianteiro acomodava três pessoas e o
traseiro, tão cômodo como aquele, vinha colocado 50cm para frente do eixo de
trás, ao contrário dos carros da mesma época, em que esse banco vinha sobre
o eixo, o que implicava desconforto e numa maior altura da carroceria.
Tudo
isso não impediu que o Airflow fosse o fracasso que os fatos mostraram. As
mais variadas hipóteses tentam explicar a razão disso. Dizem uns que o
motivo principal foi a quebra muito brusca das tradições de um mercado
extremamente conservador; outros, que a culpa recai no departamento de
produção, que, realizando um carro de desenho tão radical, permitiu ao
público o ensejo de especular sobre as possíveis falhas do novo carro. Há
ainda os que tentam explicar o fato alegando extrema falta de beleza e fraca
divulgação. O que aconteceu, foi que, três meses apenas depois de lançado, o Airflow foi abandonado, tendo causado à Chrysler um prejuízo tal que quase a
levou à falência.

Hoje, no entanto, suas qualidades estão comprovadas e
suas características mais de dez anos avançadas em relação a outros modelos,
foram, praticamente todas, introduzidas nos modelos posteriores de outras
marcas. Morreu, assim, no lançamento o que poderia ter antecipado a
revolução do mundo automobilístico.
Dentro e fora, o Chrysler
Airflow é avançadíssimo - tão avançado que não é aceito pelo público
comprador. Seus princípios, porém, ficam e são vistos em praticamente todos
os carros de hoje.

O Airflow é o primeiro a ser desenhado em
túnel de vento.
É tão forte que é jogado de 25 metros de altura e chega inteiro

Radical demais, contrasta fortemente com o
padrão do tempo

Chrysler Airflow 1935, 8 cilindros em
linha, 323.5", 138 HP
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